Para José Firmo, CEO do Porto do Açu, a retomada dos investimentos no Estado do Rio de Janeiro e as mudanças no marco regulatório para o setor energético foram importantes e necessárias. A questão da sustentabilidade também desempenha um papel importante no desenvolvimento do porto, razão pela qual a Alemanha, como pioneira em gestão, tecnologias e energias sustentáveis, é um parceiro estratégico importante. Em entrevista a AHK Rio, Firmo explica que potencial de desenvolvimento ele vê para o Porto de Açu, mas também para investidores alemães na região.
AHK Rio: O Porto do Açu é um empreendimento jovem, mas de rápido crescimento. Quais as perspectivas de desenvolvimento do porto?
José Firmo: O Açu é o maior empreendimento portuário, industrial e de energia do país com 130km² e está se desenvolvendo em grandes hubs. Contamos com atividades de apoio offshore e movimentação de graneis sólidos, líquidos, carga de projeto e, a partir deste mês de julho, contêineres por comboio oceânico entre os Porto do Rio e Açu. Assim, já nos consolidamos como hub de petróleo, mineração, de serviços e de logística e estamos na fase seguinte de desenvolvimento do Hub industrial.
Um exemplo de progresso é o desenvolvimento do projeto de uma refinaria modular para fornecer derivados de óleo e de um parque de tancagem, representando o avanço do upstream para mid e downstream, em um momento de expectativa de quebra do monopólio sobre o refino. Também está em construção o maior par que termelétrico a gás da América Latina no Açu, que consolidará nosso Hub de Gás & Energia.
Todo esse crescimento é fortalecido pelo Hub Verde, incluindo uma reserva natural privada de 40km² (a maior do Brasil) que oferece serviços ambientais para empresas, e prevendo também o desenvolvimento de energias renováveis para fomentar a transição energética do porto e da região.
AHK Rio: A política de sustentabilidade é um tópico em voga para a AHK e empresas alemãs. Qual a visão do Açu para o desenvolvimento sustentável?
José Firmo: A sustentabilidade é pilar estratégico da nossa transformação econômica. O Açu é um dos únicos projetos estruturantes do Brasil que já nasceu com essa visão e já se destaca mundialmente, como no Prêmio Mundial de Sustentabilidade 2020 da World PortSustainabilityProgram (WPSP), no qual fomos reconhecidos ao concorrer com portos gigantes e de referência, como o de Los Angeles e Amsterdã.
Pensar à frente está no nosso DNA. Por isso, queremos garantir energias renováveis como parte do mix energético do nosso porto. Além disso, em nosso planejamento estratégico para desenvolver um cluster químico, levamos em conta o potencial do clean-tech. A possibilidade de inserir químicos verdes na nossa discussão é vista como um dos diferenciais do nosso porto para seguirmos adiante.
Assim, uma das maiores oportunidades para as empresas alemãs que já operam no Brasil, assim como novos entrantes, é de investir neste ambiente de forma ímpar. O Açu está na fronteira industrial e de infraestrutura do país e com potencial imenso para alavancar negócios de energia sustentável e absorver suas tecnologias, setor no qual a Alemanha é pioneira.
AHK Rio: Que outras oportunidades setoriais você também observa para os alemães na região?
José Firmo: O Rio de Janeiro voltou ao radar de investidores internacionais nos últimos anos. As mudanças regulatórias estão impulsionando a retomada competitiva do setor de energia no mercado internacional, trazendo de volta o interesse de alocação de recursos para o Rio. A maior parte do investimento mundial em blocos exploratórios de petróleo foi direcionado para a região e esse capital é apenas a ponta do iceberg. Esse movimento dá energia para impulsionar a indústria de petróleo, gás e derivados.
Neste fértil ambiente de negócios, a Gás Natural Açu (GNA) constrói o maior parque termelétrico da América Latina no Açu. Serão duas térmicas com capacidade de 3GW, energia suficiente para suprir 14 milhões de residências. Este projeto especificamente já é feito em parceria com uma empresa alemã, a gigante Siemens, que junto com a BP e a Prumo formaram a parceria que oferece tecnologia e expertise necessárias à implantação do parque. A expectativa de trazer gás doméstico para o porto também será um marco para a industrialização do Açu. Setores industriais intensivos em gás poderão se beneficiar da disponibilidade desse insumo fundamental, como setor de fertilizantes, químicos e siderurgia.
A conectividade do Açu é outro atrativo: ainda em 2020, o Aeródromo Norte Fluminense inicia a operação para transporte de pessoal para plataformas. O novo serviço de cabotagementre Rio e Açu será inaugurado ainda neste trimestre. Além dessas conexões, novos acessos por rodovia (RJ-244) e ferrovia (EF-118) serãoimplantados a médio prazo, ampliando ainda mais as possibilidades de chegada ao empreendimento portuário.
Essas perspectivas promissoras trazem oportunidades para que diversas indústrias e fornecedores alemães de referência possam alavancar seus negócios no Brasil. O Açu é atualmente um vetor de crescimento no sudeste do país, com 62 km²ainda disponíveis para instalação de novas empresas nos próximos cinco anos.
AHK Rio: Como novo associado da AHK Rio, quais são as expectativas do Porto do Açu em termos de cooperações e projetos durante os próximos 12 meses?
José Firmo: Precisamos melhorar o conhecimento das diversas oportunidades do Brasil para o mercado alemão.
O Brasil tem sofrido muito em sua imagem, principalmente na Europa e no quesito sustentabilidade. O Porto do Açu oferece grandes oportunidades de desenvolver projetos que ajudem a melhorar muito esta perspectiva mundial e trazer grandes investimentos sustentáveis para nossa região. Nossa imensa área disponível, associada ànossa visão de desenvolvimento sustentável, ao acesso ao mar e hinterlândia sem congestionamentose às nossas capacidades logísticas únicas no Brasil,tem o potencial de fomentar a construção dos maiores projetos sustentáveis no país.
Por isso, queremos aproximar o Porto do Açu da Alemanha e esperamos promover negócios bilaterais nesse relevante fórum de networking que é a AHK-Rio. As colaborações em eventos e webinars também são ações que certamente expandirão nossa visibilidade. Além disso, queremos compartilhar e aprender melhores práticas nos debates da AHK em outras áreas como logística e responsabilidade social.
AHK Rio: Por que o Porto do Açu considera a associação com empresas alemãs importante?
José Firmo: A trajetória do Porto do Açu é marcada por associações com players internacionais de referência. A colaboração com diferentes culturas globais com as quais compartilhamos nossos valores amplia nosso rol de expertise e gera mais oportunidades para o desenvolvimento. A Alemanha é líder na Europa e forte em indústria e tecnologia, um parceiro estratégico do Brasil.
Já temos experiências de parcerias positivas no porto com empresas alemãs, como a parceria já citada com a Siemens para a construção do hub de gás do Açu (GNA), a joint venture entre Prumo e Oiltanking(Açu Petróleo, que é responsável por mais de 25% das exportações de petróleo do país), além de casos de sucesso na logística com a BBC Chartering (armador) e a Deugro (agente e carga). O Açu também já recebeu no Terminal Multicargas carga geral vinda do Porto de Hamburgo, na Alemanha. São experiências de sucesso e demonstram o vasto potencial de negócios que temos para as empresas alemãs.
AHK Rio: Há outras parcerias em curso visando aproximação do mercado alemão?
José Firmo: O Porto do Açu tem relacionamento próximo ao Porto de Hamburgo, no âmbito da Associação Internacional de Portos (IAPH). O CEO, Jens Meier, representa a Europa e adiretora de Negócios Internacionais do Porto do Açu, Tessa Major, representa a América Central e do Sul. Nesse fórum são discutidas as principais tendências e melhores práticas do setor portuário com objetivo de promover o comércio internacional.
Outra parceria estratégica relevante é com o Porto de Antuérpia, na Bélgica, uma das principais portas de entrada para a Alemanha. Antuérpia possui no seu portfólio vários clientes alemães: investidores industriais como as petroquímicas Bayer e BASF, armadores como Hamburg Süd, exportadores de vários segmentos como automóveis, aço e equipamentos. Por meio da rede de representantes portuários internacionais de Antuérpia também são promovidos os negócios do Açu no mercado alemão.Temos, inclusive, um case emblemático de parceria internacional: a turbina da alemã Siemens para a primeira termelétrica do Açu saiu da Alemanha, embarcou no Porto de Antuérpia em um navio da alemã BBC Chartering e chegou ao Açu.
AHK Rio: Para empresas estrangeiras que avaliam investir nos setores de energia e infraestrutura fluminense, quais dicas seriam essenciais para o sucesso? Parcerias com a Câmara, por exemplo, seriam uma boa atitude?
José Firmo: Redes de networking são importantes para compartilhar desafios e encontrar soluções que sejam melhores para todos, especialmente na cultura brasileira. Por isso, somos engajados em plataformas como associações setoriais, como a IAPH e a ATP, e câmaras de comércio, caso da AHK-Rio. As câmaras são relevantes para ampliar a colaboração com empresas que têm ligação com outros países, trazendo mais conhecimento e conexões com os mercados estrangeiros.
O setor de energia também está em busca de novos modelos de negócio para perdurar na fase pela qual a indústria petroleira está passando. É preciso reinventar e investir em soluções inovadoras, alinhando o risco de negócio e o risco do projeto. Estão em curso diversas mudanças regulatórias que tornarão os setores de energia e infraestrutura ainda mais competitivos. Ao mesmo tempo, a transição energética está se tornando regra do negócio e gera oportunidades para investimentos mais sustentáveis em longo prazo.
No Açu, por exemplo, o modelo de negócios prevê o gás, o GNL e energias renováveis, além da possibilidade de realização de compensações ambientais através da maior reserva privada de restinga do país, a RPPN Caruara, criada e mantida voluntariamente pelo Porto do Açu desde 2012. Até o novo serviço de feeder e cabotagem prevê a neutralização completa do carbono emitido por meio de um programa da nossa parceira Norsul. Sustentabilidade, segurança e eficiência estão entre os principais valores do Açu.